Ela e as Palavras Arquivo

Nesse momento  sou apenas uma criança desprotegida Não encontrando abrigo onde deveria Cada lágrima é uma palavra não dita Cada soluço uma tentativa desprevenida Que há de um erro se tornar hábil? Que há de um burro se tornar sábio? Quem não vê a alma Não sabe do real sentimento Quem não entende um olhar Não vê o ressentimento Nada se pode cobrar de quem não há de entender E sou o erro Eu que devo ceder Fugirei para longe Onde possa me libertar Perto o suficiente Caso queira retornar Mas hei de fazer com que me escutem Antes que eu transborde Raiva não adianta Mas voz vazia também não Encerrar a piedade E fechar o coração Pois o que nos magoa Não deve sair do chão

         Acabou de passar uma ambulância ao meu lado. .. Ah que alma terá nos deixado? Que acidente horrível que ocorreu? Que saudades serão deixadas e qual será a dor de quem sobreviveu? Se a vida não é fácil, a morte é um alívio, mas tudo tem sua hora. Será que essas pessoas estavam se divertindo ali? Vivendo suas primeiras férias dos sonhos, e de repente o destino se intrometeu, dizendo que ali tudo acabaria? Quanto sangue fora derramado? É triste pensar nisso: as coisas simplesmente acabam do nada. Ali e em outro lugar do mundo, uma voz foi calada para sempre, e sua história teve um terrível ponto final.

                                Nenhum grito era forte o suficiente para expressar aquela dor, sendo assim nenhum som saiu. Via-se ali a perda que seria irrecuperável, o vazio que jamais poderia ser preenchido. Quando a morte chega, ela leva embora bem mais do que uma alma, leva fragmentos de outras. De tantas perdas, e tantos vazios, nada mais havia para ser retirado. Todas as lágrimas e silêncios foram postas para fora aos gritos de agonia e solidão, e como o selvagem que se liberta, veio a calma. Após a tempestade, o céu limpa, e é assim que se sente a alma, quando se desprende do passado. E o agora é apenas seguir em frente, e aos poucos conforme o sol se põe no horizonte, nós aprendemos que a dor estará sempre presente, mas não é necessário andar de mãos dadas à ela.