Eu quero mudar tudo! Pensamento, roupa, cabelo, voz, palavras, atitudes... Quero mudar cada peça, e tirar cada uma do seu lugar. Quero bagunçar tudo e deixar por assim. Organizado demais, arrumadinho de mais, sempre revela seus defeitos de mais. O bagunçado é o bom, de tanta bagunça se reconhece quando organiza. Não quero mudar por que não me gosto, muito pelo contrário. Quero mudar por que já é tempo de ver as coisas de maneiras diferentes. Não mudarei para "normal": isto é algo que nunca fui e nunca serei. Mudarei para um outro lado meu: um lado onde até pode ser mais quieto, mas não menos sorridente.
Era um papel em branco, onde escrevi e despejei tudo o que cresceu dentro de mim. Tudo desde o início até então: cada palavra, cada gesto, todo amor que recebi, bem como todo o medo que enfrentei e assim selei com lágrimas. Jamais entreguei a ninguém. Era íntimo demais, e eu não queria me desfazer por medo de não lembrar mais o que eu possuia. Doces palavras me fizeram entregar esse papel a ele, e ele até o guardou no bolso. Contudo, como todas minhas desconfianças suspeitavam, não demorou muito para ele descartar o papel, amassou-o e o jogou no lixo. É onde diria que você se encaixou. Talvez tivesse para ser tido para ti desde o inicio, ou agora seja o momento certo, ou talvez você dê o mesmo inevitável fim. Mas você juntou meu papel, desamassou e pôs-se a desvendar as palavras supérfulas escritas, e se permitiu repousar o olhar nas entrelinhas. Senti-me escrita nos seus sussurros. E agora, já reescrevendo-me, em nova folha, quero entregar-te, para ser lida novamente. ...
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