grito em folhas mudas


grito em folhas mudas
as palavras que não me contextualizam
choro em gotas de chuva
que não borram a caligrafia
seca é, sem fé, em marcha ré
crio os calos nos dedos
mas estes não cansam de preencher linhas
preenchem o espaço mas não as estrelinhas
mesmo que expresso no papel
o real não sai nele
é o não escrito, o silêncio, o pouco rebuscado
que me aprisiona
é a surdez aos rascunhos
que me faz por de qualquer jeito o sentido
mesmo raso o que traço
é o que tento dizer aos ratos
nenhuma palavra terá tradução
nenhum acento será essencial
mas transcrevo
sons que mal são grunhidos
a garganta é totalmente seca aos dedos ágeis
então grito mesmo que pouco sei o que deixo
tão complicado é pôr-me em textos
quando eu mal sei minha definição
mais eis aqui o que escrevo
sem sentido, rabiscado
a lama e alma de um ser calado

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