O preenchimento do vazio é momentâneo, como se qualquer coisa fosse melhor que nada, mas nada é o que deve ser. Cada alegria, ou sentimento ocupa o espaço que deve ocupar, mas há aquele quarto vazio que ninguém consegue entrar. Eu, por ventura, não tenho a chave, e até hoje não encontrei quem a tenha. Devo eu a ter entregado em outros tempos, concedido meus segredos, mas então nos perdemos. Não vivo esperando que esse quarto vazio seja aberto, mas no fundo observo, cada ação que possa levar a isso. Será tudo isso uma armadilha do destino? Ou eu apenas que devaneio, enlouqueço, sem mal saber do que sinto?
Era um papel em branco, onde escrevi e despejei tudo o que cresceu dentro de mim. Tudo desde o início até então: cada palavra, cada gesto, todo amor que recebi, bem como todo o medo que enfrentei e assim selei com lágrimas. Jamais entreguei a ninguém. Era íntimo demais, e eu não queria me desfazer por medo de não lembrar mais o que eu possuia. Doces palavras me fizeram entregar esse papel a ele, e ele até o guardou no bolso. Contudo, como todas minhas desconfianças suspeitavam, não demorou muito para ele descartar o papel, amassou-o e o jogou no lixo. É onde diria que você se encaixou. Talvez tivesse para ser tido para ti desde o inicio, ou agora seja o momento certo, ou talvez você dê o mesmo inevitável fim. Mas você juntou meu papel, desamassou e pôs-se a desvendar as palavras supérfulas escritas, e se permitiu repousar o olhar nas entrelinhas. Senti-me escrita nos seus sussurros. E agora, já reescrevendo-me, em nova folha, quero entregar-te, para ser lida novamente. ...
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