Eu cresci II
Eu cresci. Estou mais alta, tenho mais idade, minhas roupas não servem mais. Cortei meu cabelo, o deixei crescer, enrolei, alisei. Enjoei de batom e depois exagerei no vermelho. Substitui alguns tênis por saltos, sutiãs simples para o Bojo. Não preciso mais segurar sua mão ao atravessar a rua, nem pedir para que me leia aquela história. Já sei me servir sozinha e escolher minhas roupas. Meu olhar ganhou experiência e meu rosto já foi regado com novas lágrimas. Não vejo mais aqueles desenhos e minhas piadas já têm outra conotação. Não preciso mais que me carregue no colo e não há mais espaço para infantilidades como fingir estar dormindo para ser posta na cama, ou correr caso algo me dê medo. Não tenho mais desculpas esfarrapadas: toda hora é hora de agir. Não sou mais eu que preciso de cuidados, e sim eu que preciso cuidar. As pessoas já não acham fofo que eu tenha amores platônicos ou fale de reinos mágicos. Elas querem realidade: "quando vocé finalmente irá crescer?". Ah! Eu não tenho mais o meio da suas cama para me aconchegar. Há muito já não caibo ali. Já tive delisusões e gargalhei muito também. Minha voz ficou mais grave, e minhas palavras mais bem medidas. Já sei falar com conhecimento, apesar de ainda ser leiga. Já não preciso mais do seu colo e nem me agarrar em você quando as ondas do mar forem muito altas. Eu já alcanço os pés no chão, já aprendi a me equilibrar e por vi das dúvidas, mergulhar. Como eu cresci. De muitas coisas me arrependi pois eles me arrebentaram, me deram um coice, mas no fim das contas o único caminho é para frente. Mas por muitas coisas esperei ansiosa e foram de loge o que eu nem imaginava: foram provavelmente melhores e únicas.
Ei. Crescer não significa abrir mão de todas as gostosuras de ser criança. Eu quero ainda poder segurar sua mão mesmo que não seja para atravessar a rua. Quero me aconhegar no meio da cama mesmo que ela já esteja pequena. Quero continuar falando minhas idéias loucas e ser totalmente espontânia. Quero ter a liberdade e a ousadia de me perder nos meus sonhos. Quero continuar recebendo cuidados. Afinal todos crescem, mas a fragilidade não é apenas das crianças. Todos defeitos e qualidades seguem no futuro, apenas aprendemos a esconder melhor.
É eu cresci. Mesmo que a dor nos cale, o tempo nos desgaste, se perder ainda é uma aventura para poucos. Eu precisei ir embora para aprender o caminho de casa. Ainda volto para segurar sua mão.
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