A Praça
Eu
passava por eles todos os dias. Eles ficavam sentados naquele banco por horas a
fio, nem se quer os via conversar… E todo tempo que os via, estavam de
mãos dadas. Eu não entendia, sinceramente não entendia. Como podiam ficar
ali, sem fazer nada? De qualquer forma, era lindo. Imaginava como era a
historia deles. Como se conheceram? Teriam filhos? O que fazem o
resto do dia? Que sentimento forte os fez ficar juntos até ali. O senhor
estava com os olhos fechados, talvez estivesse dormindo, e ao passar a senhora
deve ter percebido que eu os observara, pois ela me sorriu. Um sorriso fraco,
mas eu nunca mais me esqueceria dele.
E
dias passavam, e eu sempre pegando o mesmo caminho para casa. Não que não
houvesse outro, mas eu gostava daquele ali. Tinha a praça- uma das mais bonitas
da cidade-, com flores e bancos… e o velho casal. Até que um dia eu não os vi
ali. “Devem estar em casa”, porém os dias se passavam, e a cada vez mais eu me
preocupava. Eu não os conhecia, não tinha nenhum afeto, mas a ausência deles
naquele banco era deprimente. Deixei por isso.
Passou-se
um mês, e a primavera dava suas caras na cidade. É a época mais linda do ano:
as flores desabrocham, o ar parece ficar mais cheiro, e a pracinha perto de
casa! Fica deslumbrante! “Mas por lembrar em praça… E o casal?” Esse pensamento
me fez pensar. Era época de primavera e a
comunidade fazia visitas nas casas levando flores. Eu resolvi participar esse
ano- apesar de não simpatizar com boa parte dos meus vizinhos.
A
ultima casa que fui era no mínimo peculiar: casa branca com janelas rosas, um
muro baixo com um arco de cerca viva na entrada, e no jardim, duas únicas
rosas- uma estava ‘queimada’ e a outra murcha. Tinha um ar simples e alegre
aquela casa, mesmo que parecesse descuidado há algum tempo. Bati à porta e
esperei. Quem atendeu foi uma moça jovem e corpulenta. “Olá! “ O Sr. e Sra.
Fontgaland estão?”- eu disse os nomes que estavam na lista. A expressão dela
pareceu se entristecer. “Entre”. Com minhas duas rosas ás mãos, entrei na casa.
A moça me conduziu até um quarto. Ali estava a doce senhora do parque! Agora
entendia por que a moça pareceu triste. A Sra. Fontgaland parecia desfalecer.
Cheguei mais perto.
“Eu reconheço você. É a moça que passava por nós todos
os dias”- disse com uma voz fraca. “Sim sou eu. Vim trazer-lhe uma rosa da
primavera”. Ela sorriu. Aquele mesmo sorriso da praça. “Trouxe um para seu
marido também”- foi aí que percebi a falta dele. “Ah jovem. Meu marido foi
embora dessa vida”. Que?
“Sinto
muito”- minha voz saíra rouca. “Não sinta. Ele está bem”. “E a senhora?” “Eu me
vou com ele!”. Que?². “Não diga isso!”-eu sussurrei. “Uma vez eu prometi que
estaria com ele para sempre minha jovem. Não descumprirei isso agora. Muito
menos na minha idade”- ela grunhiu algo que acho que foi uma risada. Seria
estranho pensar naquela praça sem eles. “Qual é seu nome?”- ela me perguntou. “
Lúcia”. “Então Lúcia, posso te pedir um favor?”. “S…sim”. “Poderia plantar
essas rosas ali no jardim?”. Com isso ela fez um aceno, e a moça
que estivera parada ali, começou a me levar para fora. Não entendi o que ela
queria com aquele pedido. A cebeça dela se virou e seus olhos fecharam. Juro
que vi um sorriso. Queria acreditar que ela estava dormindo, mas sabia que não.
Quando sai para o jardim, as duas flores estavam murchas.
Eu
cumpri com o que prometi. Plantei as rosas no jardim. E agora depois de 3
meses, elas já floresciam incrivelmente duas- apenas duas!- lindas rosas.
Minha
vida continuou a mesma após a morte deles. Afinal eu nunca realmente os
conheci. Ter visto eles no banco, e ter ido na casa deles, foi apenas uma
fatalidade. Apenas mais um encontro da vida E até hoje nem sei o nome deles,
mas ás vezes olho para o banco, achando que vão estar ali. Engraçado que
muitas vezes as pessoas que mal nos lembramos, podem marcar tanto.
Comentários
Postar um comentário