Fragmento

                […]Ela ficou sem reação: não sabia se ficava feliz por reencontrá-lo, ou assustada por vê-lo ali. Com a mesma rapidez com que seus olhos capturaram a imagem dele, com a mesma a deixaram escapar. Estranhamente ela não se sentia mais perdida, o peso que parecia lhe esmagar o coração, agora era mais leve, e as lágrimas que não cessavam, encontraram um lugar para um tímido sorriso, e naquele momento, mesmo ainda chocada, ela sabia o que tinha que fazer.
                Aquela rua podia parecer igual a tantas outras, mas para Elisa, ela não era. Aquela rua guardava uma infância, recordações, risos, e por suas pedras o seu amor também estava guardado. “Eu o conheci exatamente aqui”, sorriu. Era estranho voltar para aquele lugar. Elisa tinha o evitado por dois anos, e estar ali não era fácil. As memórias daquele dia enchiam sua cabeça de novo. Flashes, e momentos cortados, e ele, sangue… Não. Ela não estava ali para falhar de novo. Ela devia fazer aquilo. Nem sempre é fácil deixar para trás.
                O vento batia no seu rosto, como se a acariciasse, foi inevitável sorrir, era como se o vento quisesse imitá-lo.  Tudo simplesmente o lembrava, mas agora, não era mais dor que Elisa sentia. Saudade sim, mas não dor. Era algo novo… Ele sempre a surpreendia, e mesmo agora, a fazia ter sensações novas.
                “Cheguei”- sua voz tinha o peso da saudade. Fora ali, em frente àquela árvore que ela o viu pela primeira vez. Ele usava uma calca jeans, camiseta e um gorro- ela nunca entendera o motivo de gorro em pleno verão. “Estilo”- ria, lembrando da explicação dele. “Simples mas incrível- assim como ele”.   Por um segundo, Elisa se esqueceu do que viera fazer- esse era o efeito dele sobre ela- quando viu que em suas mãos ainda estava a pequena caixa de madeira. “Ornamentada a mão pelos Ingleses por uma madeira fina anos atrás” – Ele lhe contara uma vez. 


                Algum tempo se passou até que Elisa tivesse coragem para cumprir seu objetivo. O vento agora soprava mais forte, logo chegaria a chuva. Delicadamente ela abriu a caixa, ergueu-a para cima e despejou seu conteúdo no ar. As cinzas começaram a dançar e ir para longe- pareciam alegres. Ela jurou sentir o cheiro dele naquele momento. A coisa mais difícil que ela já fizera, se acabou. Lágrimas correram pelo seu rosto, mas não era de tristeza. Era de…era de… “Liberdade”.  Naquele momento Elisa estava livre. E Ele também.

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