Era um papel em branco, onde escrevi e despejei tudo o que cresceu dentro de mim. Tudo desde o início até então: cada palavra, cada gesto, todo amor que recebi, bem como todo o medo que enfrentei e assim selei com lágrimas.
Jamais entreguei a ninguém. Era íntimo demais, e eu não queria me desfazer por medo de não lembrar mais o que eu possuia.
Doces palavras me fizeram entregar esse papel a ele, e ele até o guardou no bolso. Contudo, como todas minhas desconfianças suspeitavam, não demorou muito para ele descartar o papel, amassou-o e o jogou no lixo. É onde diria que você se encaixou.
Talvez tivesse para ser tido para ti desde o inicio, ou agora seja o momento certo, ou talvez você dê o mesmo inevitável fim.
Mas você juntou meu papel, desamassou e pôs-se a desvendar as palavras supérfulas escritas, e se permitiu repousar o olhar nas entrelinhas.
Senti-me escrita nos seus sussurros.
E agora, já reescrevendo-me, em nova folha, quero entregar-te, para ser lida novamente.
Um novo eu que pertecente só a mim, e será recitado pelos seus lábios.
Parece repentino, raso, e talvez de fato seja. Mas ao recreesver-me descobri a intensidade que quero possuir, quais letras destacar e quais pontos finais serão o cálice para as minhas lágrimas. E pela metade - como no fim sempre serei - sinto ânsia em seus olhos de me ler. E bom, eu sinto a necessidade de ser lida com atenção e carinho. Por isso mesmo receosa, talvez de impulso, me entregue, na confiança de que não serei rasgada. Rabisque-me, acrescente vírgulas, notas de rodapé, tudo é válido se me construires.
Ainda tenho medo, mas negarei para me permitir.
Já sei que possuo novas folhas se as velhas se perderem.
A tinta circula em mim até meu fim, então sei que não serei apagada.
Agora, a quem confiar me ler, e reler, é o tato de aprender quem vai saber apreciar.
Agora, aqui, exposta, estranha à mim porém tão próxima a minha verdade, não escolho-te, mas sinto-me escolhida pelos olhos que talvez não deixarão escapar minha intensiade - pois esses olhos, se desejarem, possuem a mesma força sobre mim.
V.Elisa~
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