Na verdade é tão poético quanto você imagina, mas diria que está mais para um drama pesado; aquelas poesias que te ferem e não acalentam, mas são belas. No final mesmo, nada importa além de você. Por que pensa comigo: sem o poeta não há poesia, e quem não puder esperar até acabar não é merecedor de contemplar. Então apenas vai escrevendo, transborde e rabisque nas laterais. Haverá muitas destruições e não mentirei, no final você estará em pedaços, mas aí, quando o último verso ser feito, será hora de juntar os fragmentos. Acredite em mim, por mais mórbida que seja uma poesia, não há nada mais sublime, e mesmo em pedaços nos fazemos completos. A destruição é apenas parte da beleza que alguém um dia reconhecerá nas entrelinhas.
Era um papel em branco, onde escrevi e despejei tudo o que cresceu dentro de mim. Tudo desde o início até então: cada palavra, cada gesto, todo amor que recebi, bem como todo o medo que enfrentei e assim selei com lágrimas. Jamais entreguei a ninguém. Era íntimo demais, e eu não queria me desfazer por medo de não lembrar mais o que eu possuia. Doces palavras me fizeram entregar esse papel a ele, e ele até o guardou no bolso. Contudo, como todas minhas desconfianças suspeitavam, não demorou muito para ele descartar o papel, amassou-o e o jogou no lixo. É onde diria que você se encaixou. Talvez tivesse para ser tido para ti desde o inicio, ou agora seja o momento certo, ou talvez você dê o mesmo inevitável fim. Mas você juntou meu papel, desamassou e pôs-se a desvendar as palavras supérfulas escritas, e se permitiu repousar o olhar nas entrelinhas. Senti-me escrita nos seus sussurros. E agora, já reescrevendo-me, em nova folha, quero entregar-te, para ser lida novamente. ...
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